O Bando Editorial Favelofágico é um selo editorial e produtora literária do Ecomuseu de Manguinhos/Redeccap.

Disputar a literatura brasileira com a poética política da classe trabalhadora – eis a missão desse selo editorial e produtora literária que nasceu do Ecomuseu de Manguinhos/Redeccap. Criado em 2015 pelos editores Brunna Arakaki, Felipe Eugênio, Flora Tarumim, Luíza Gomes, Manuela Oiticica e Rafael Maieiro, o Bando fez parte dos coletivos que integraram a I Agenda Cultural Mandela Vive, realizada no Complexo de Favelas Manguinhos. Desde então desenvolve suas atividades editoriais priorizando a feitura de residências literárias, disputando politicamente a literatura através de experimentos da favelofagia.

O Bando Editorial Favelofágico não tem fins lucrativos. Está instalado na Redeccap, que é uma organização de base sociocomunitária de de Manguinhos, e que sempre foi tocada por moradores de Manguinhos. A Redeccap que atua desde 1986 na luta por direitos humanos, segurança alimentar, educação popular, democratização da cultura e, com o Ecomuseu de Manguinhos, um de seus coletivos, também desenvolve ações de memória social, agitação cultural e territorialização de políticas públicas saudáveis utilizando a arte como estratégica para mobilização e formação cidadã. Documentários, festivais culturais e, com o Bando, criação literária, estão entre suas expertises.

Através do Ecomuseu de Manguinhos, o Bando Editorial Favelofágico está integrado à Periferia Brasileira de Letras – rede nacional de coletivos literários atuantes em quebradas brasileiras. Mas também foi a partir da construção do Bando que pode avançar o trabalho sinérgico entre Fiocruz e Redeccap para as pesquisas que resultaram na PBL como proposta de atuação de Promoção da Saúde a partir de territórios socioambientalmente vulnerabilizados de centros urbanos.

Favelofagia

O conceito de Favelofagia é o que norteia o trabalho do Bando Editorial Favelofágico, e que se apresenta em seminários, publicações e, fundamentalmente, nas residências literárias que produz.

Embora seja um conceito em desenvolvimento, pode-se dizer que a Favelofagia é uma proposta de estética literária que busca uma transfiguração de temas, de personagens e das formas da ficção em  prosa para uma estética que, interseccional, matize no leitor diferentes modos de entusiasmo revolucionário. A filiação da Favelofagia à perspectiva proletária, afro indígena, decolonial,  queer e feminista não lhe limita nem à fixidez de temas, nem de espaços e tampouco de personagens, outrossim,  busca colocar em prática uma literatura que, investindo na forma, não se sujeita aos imperativos determinados pela hegemonia, alcançando um contraponto ao poder, ousando, enfim, também poder enquanto inscreve a formulação risível e as elaborações lúdicas diante da adequação criativa da realidade às letras.  

A Favelofagia é essa estética literária que mobiliza o ato criativo de escritores – oriundos de periferias de centros urbanos –  para a construção de experimentações formais em romances, contos e novelas, buscando, finalmente, a materialização de uma poética política que desmistifique a posição atávica dos grupos sociais oprimidos aos dispositivos de opressão. 

Esse projeto estético e político fora iniciado e se mantém em Manguinhos, um complexo de favelas que detém um dos piores IDH’s da cidade do Rio de Janeiro. Ao largo dos anos, dentro desse conceito em expansão, pode-se dizer que uma literatura favelofágica se materializou na produção ficcional de mais de uma dezena de escritores suburbanos e de favelas cariocas. Na favelofagia se busca colocar em perspectiva os usos da comicidade, do marxismo fanoniano e da teoria crítica schwarziana para a formulação de uma identidade literária que se desenvolve a partir da favela como locus epistemológico. 

Assim, a escritura literária favelofágica é atravessada pela crítica às desigualdades sociais, políticas e étnicas, porém experimentando a fusão de elementos que, na forma, construam narrativas insurgentes, seja pela revelação do  patético via a comicidade, seja compondo com traços do melancólico, para alcançar a exibição de cenas da vida da classe trabalhadora (mas não só), evitando, porém, a reificação das barbáries típicas da estética naturalista.  

Enquanto prática, a favelofagia está em construção ao passo que são lançadas as obras produzidas dentro das Residências Literárias Favelofágicas. Embora o resultado de livros com (romances e contos) guarde aos seus autores as devidas idiossincrasias de estilo, ainda pode-se verificar que há um projeto literário coletivo, com autores todos provocados para um mesmo horizonte: o desafio de criar uma estética enegrecida, popular e emancipatória à revelia das temáticas e tramas, ou pior ainda, das estereotipias.

Desde 2015, através de residências literárias, escritores até então amadores – e alguns já publicados – têm desenvolvido, ancorados na proposta da favelofagia, ficção em prosa. Já em 2021, com a realização da primeira residência literária de romances, com quatro romancistas inéditos produzindo suas histórias, foi inserido o intento de aperfeiçoamento ao que se definia como literatura favelofágica. Durante a residência de romances daquele ano se deram as mais intensas tentativas sobre o humor. Fora o início  de uma investigação sobre formas para encaixar cômico na condução da narrativa dos romances favelofágicos. Nesses quatro romances favelofágicos de 2021, mesmo que não tenham resultado em ficções inequivocamente marcadas pela comicidade, ao menos foi possível esvaziar o estilo da fatalidade, da expressão trágica e reificadora de dores, que – aqui e ali – acomete obras literárias que tratam dos males de nossa sociedade neoliberal, racista e misógina. 

Felipe Eugênio
Editor do Bando Editorial Favelofágico
Integrante do Ecomuseu de Manguinhos

Literatura e Promoção da Saúde

O Bando Editorial Favelofágico é um selo editorial sem fins lucrativos. E que tem como missão, a partir da literatura de escritores de origem periférica, contribuir para a expansão do imaginário social que subverta as estereotipias que se tornam base ideológia para as violências várias cometidas contra a classe trabalhadora, a população negra, as mulheres e comunidade lgbtqiaopn+, contra os corpos divergentes, contra os moradores de favelas. Esse é um legado tido da saúde. O Bando Editorial Favelofágico aprendeu tanto com André Schiffrin quanto com Sérgio Arouca e ser uma organização das letras e que busca o horizonte de territórios saudáveis no lugar de territórios de exceção.

Mas como assim, saúde e literatura sem ter finalidade terapêutica? Pois é isso mesmo, não se trata de arte-terapia. E sim de Promoção da Saúde e a arte como sua plataforma colaborativa.

A compreensão da saúde como constituída pela reunião de determinantes sociais (moradia, emprego, educação, redes sociais, segurança alimentar, etc) tem recebido na última década essa nova atribuição: as artes, que podem ser vistas tanto como ponto de vista analítico de um grupo populacional, quanto como arena para se investir em transformações que melhorem indicadores sociais. Há algum tempo, na história entre a instituição Fiocruz e a sociedade civil organizada em Manguinhos, que a literatura tem sido lida como forma de contribuir para a redução das desigualdades e a difusão de narrativas oriundas da classe trabalhadora. Eis a favelofagia como uma dessas tecnologias.

A Promoção da Saúde é um conjunto de ações e políticas que busca capacitar indivíduos e comunidades para aumentar o controle sobre os fatores que influenciam sua saúde, promovendo o bem-estar físico, mental e social. Em vez de focar apenas no tratamento de doenças, a promoção da saúde busca prevenir condições adversas e criar ambientes desenvolvidos para a saúde, por meio de intervenções sociais, econômicas e ambientais. Esse é o campo de atuação da Coordenação de Cooperação Social da Presidência da Fiocruz, o departamento que dialoga com organizações da sociedade civil, movimentos sociais e o poder público para desenvolvimento de estratégias e iniciativas que contribuam no enfrentamento e redução das desigualdades e iniquidades socioambientais. Foi na parceria entre a Cooperação Social e o Ecomuseu de Manguinhos que surgiu o trabalho sobre a Favelofagia. E, tempos depois, a própria Periferia Brasileira de Letras, entre outras iniciativas que fundem literatura com promoção da saúde e alcançam a concepção trabalhada por Antonio Candido, sobre a literatura figurar entre os direitos humanos.

Uma bom modo de apresentar a relação dos experimentos literários do Bando Editorial Favelofágico com o universo da Saúde, situando, inclusive, a contribuição da Fiocruz nessa parceria, está no fragmento de uma apresentação da então Presidenta da Fiocruz, e atualmente Ministra da Saúde, a professora doutora Nísia Trindade, quando fez um posfácio para os romances publicados na III Residência Literária Favelofágica. Ei-la:

“A Literatura, entendida como leitura e escrita do mundo, atua como um exercício cidadão e um direito humano, tanto pela produção literária quanto pela ação política. Essa também é a leitura que a Fiocruz faz de seu compromisso com a saúde: entende como importante contribuir com uma “agenda de popularização da ciência, arte, cultura e saúde, que funcione a partir de plataformas colaborativas, (…) mediante a aproximação com movimentos sociais e associações profissionais, grupos artísticos e culturais dos territórios vulnerabilizados, priorizando uma articulação com a agenda 2030”. Estas palavras da Tese ¨do IX Congresso Interno da instituição apostam na multiplicação das vozes advindas dos territórios socioambientalmente vulnerabilizados, pois desses autores podem vir outros modos de fabular, de projetas, de inventar a realidade – e, quem sabe, nos fazer pensar em contextos, processos e, sobretudo, subjetividades que precisamos conhecer. A literatura pulsa no processo civilizacional de participar da construção de territórios saudáveis, com mais equidade e democracia”

(Nìsia Trindade, 2022)

A RESIDÊNCIA LITERÁRIA FAVELOFÁGICA

II Literatura no Dente - julho de 2015

Atualmente, em Manguinhos, seis escritores estão produzindo seus primeiros romances. É a V Residência Literária Favelofágica em curso desde setembro de 2024, que integra o projeto Impulso Carioca.

A Residência Literária Favelofágica, metodologia criada pelo  Bando Editorial Favelofágico, é uma plataforma que acolhe artistas para a criação literária. Desenvolvidas em Manguinhos, as residências literárias já aconteceram em quatro edições: 2015, 2016, 2021 e 2023.  Ao largo desse tempo, com a publicação de contos, novelas, dramaturgias e romances foi  possível aperfeiçoar tanto o conceito de favelofagia quanto construir alianças com outros  coletivos literários, instituições públicas e com o ecossistema literário contemporâneo.  Na atual residência literária, de 2024, durante seis meses, serão desenvolvidos seis romances  inéditos.  

As residências literárias favelofágicas são o carro chefe do Bando e durante elas, com os  autores e editores, se perseguem a materialização da Favelofagia nas obras literárias.  Uma residência literária se dá sobre algumas condições: 1) abertura de edital ou convite a  autores de origem periférica, 2) adesão dos autores ao desafio de criar obras que venham a  configurar uma literatura favelofágica, 3) a remuneração dos autores durante o processo de  escritura 4) a não indicação de temática para os autores, 5) o acompanhamento editorial desde  o período inicial de escrita dos autores até sua conclusão, 6) participação de autores e editores  em formações (seminários e oficinas) que tratem sobre desafios para se construir tanto uma 

poética política quanto projetos coletivistas para a democratização ou insurgência política na  literatura e 7) participação nos lançamentos e saraus de circulação dos livros.

A residência literária de 2015 foi a inauguração do projeto da favelofagia. Nela foram reunidos 13 autores, contou com cinco editores (os fundadores do Bando) e teve como resultado um livro de contos: Grãos Imastigáveis – contos favelofágicos, organizados por Flora Tarumin e Felipe Eugênio.

Na sua primeira edição, a residência literária favelofágica durou dois meses. A dinâmica era intensa e contava com os autores durante todos os dias da semana em Manguinhos. Assim funcionava: todas as manhãs, durante a primeira hora, havia uma oficina para os autores utilizando algum fragmento de prosa (normalmente de duas a cinco laudas), onde contos, partes de romances, trechos de peças de teatro, recortes de narrativas de diferentes gêneros literários serviam para observar diferentes pontos de lição sobre poéticas mundo afora. Do ritmo do texto ao lugar do trabalho, da crônica urbana à narrativa regionalista, do lugar feminino ao seu revés com laivos misóginos, tudo entrava como material próprio para o debate entre editores e escritores. A proposta era ampliar o repertório literário dos residentes. Após esse momento, todo o resto da manhã era livre para os escritores fazerem o que bem entendessem. Estavam em casa. Em sua residência literária. Computadores livres para uso, ou mesmo com papel à mão, ali podiam tanto dar sequência aos contos que estavam escrevendo, quanto podiam desfrutar desse tempo para o intercâmbio entre pares e até mesmo com os editores. A liberdade era tamanha que também poderiam ir embora. Cada criador com sua sentença. Mas isso tudo, de segunda a quinta. Nas sextas havia uma outra proposta: as Perambulações Cortazianas

Nesta edição, os escritores residentes foram: Janaína Abílio, Gagui Silva, Jorge Turco, Melina Souza, Celeste Estrela, Daniel Brazil, Sirlea Aleixo, Jorge Mathias, Alex Araújo, Haroldo César, Karla Raymundo, Malu Pereira e Lee Oliver.

A segunda residência se deu em 2016. Nela foram selecionados 6 escritores e a proposta era a produção de novelas. O componente inovador nessa segunda edição ficou por conta do desafio proposto aos escritores: criar em dupla as novelas. A ideia era explorar as condições mais comuns da autoria literária, na qual o autor vivia algo entra a soberania absoluta e a solidão para desenvolver histórias. Assim, topado o desafio, três duplas foram organizadas e dali saíram as novelas favelofágicas. Nessa edição seguiu a dinâmica dos encontros pelas manhãs para o tempo de oficinas e tempo livre para a criação – e que desta fez fora fundamental como tempo do encontro entre duplas, quando um certo esquema “sala de roteiro de dois” se fez acontecer para daí florescerem as fábulas. As perambulações cortazianas também foram realizadas nessa edição de escrita a quatro mãos.

O livro desta residência está sendo lançado em 2024, com o nome de Novelas Favelofágicas.

Nesta edição, os escritores residentes foram: Dani Ribeiro, Horrara Silva, Melina Souza, Janaína Abílio, Jorge Mathias e Deocleciano Faião.

A Residência Favelofágica de 2021 apostou na pepita de ouro da literatura: o romance. Nessa residência foram selecionados quatro escritores para que cada um fizesse seu romance. Desta vez, por conta ainda da pandemia – e também pelas condições de uma produção textual de maior fôlego -, os autores escreviam de casa e tinham encontros semanais com seus editores. A residência durou ao todo 10 meses e dali resultaram quatro livros: Carniça, de Rafael Simeão; Chã de Dentro, de Dani Ribeiro; Tudo o que prometi ser, de Daniel Brazil; e É quase como voltar pra casa, de Janaína Abílio.

Nesta residência foi inaugurada a metodologia das Sessões Literárias de Manguinhos. Momento no qual moradores do Complexo de Favelas de Manguinhos, munidos de fragmentos das obras em progressos, têm encontro com os autores, e no formato de roda de leitura, tratando dos romances ainda em construção, podem dar pitacos e tecer comentários sobre as obras. Os efeitos desses encontros em Manguinhos aparecem nos depoimentos dos romancistas favelofágicos no documentário Alta Literatura Popular Brasileira.

Nessa residência, e isso é importante ser frisado, houve uma maior dedicação para o investimento na forma dos romances utilizando ferramentas do humor, buscando, afinal, nessa toada de utilizar a comicidade na ficção como uma das investigações sobre a materialização da favelofagia em uma obra literária.

E foram quatro para exemplificar na diversidade.

Nesta edição, os escritores residentes foram: Rafael Simeão, Dani Ribeiro, Janaína Abílio e Daniel Brazil.

A quarta Residência Literária Favelofágica, iniciada em 2023, marcou o retorno ao conto como gênero literário e reuniu, novamente, um grupo grande de escritores – desta vez: um do Complexo de Manguinhos, outro do Complexo da Maré. Fruto direto do projeto da Cooperação Social da Presidência da Fiocruz, o Tecendo Diálogos, essa residência estava dentro da linha de ação chamada “Lutas e Letras”. Reunindo 16 escritores, com metade de cada território, durante os meses de agosto à novembro de 2023, os residentes puderam se reunir regularmente, fazendo oficinas e participando de atividades externas, no que tiveram terreno para a escrita de suas ficções. O lançamento do livro, reunindo toda essa produção favelofágica, acontecerá em 2024.

Nesta edição, os escritores residentes foram: Ivani Figueiredo, Ana Carolina, André Poeta, Caio Jorge, Carolina Alves, Fernando Batista Ferreira, Karla Camily, Letícia Alveira, Ludmila Oliveira, Mauriceia Soares da Rocha, Maria Cristina, Raysa Sara de Melo Castro e Rejane Barcelos.

A V Residência Literária Favelofágica faz parte do projeto Impulso Carioca. Nela se encontram seis escritores que, ao longo de cinco meses, produzirão seus romances favelofágicos. Após um processo seletivo que teve mais de 70 inscritos, os autores selecionados se tornam residentes que desenvolvem romances sobre os desafios propostos pela favelofagia. Seus projetos literários são acompanhados por editores, com reuniões semanais e, mensalmente, com encontros entre eles em Manguinhos. O formato de residência literária, assim como em outras edições, também nesta edição conta com remuneração de escritores para que possam se dedicar o mais concentradamente possível à escrita de suas ficções. Essa forma de manutenção dos artistas visa o reconhecimento deles enquanto trabalhadores, assim como de suas trajetórias, sendo filhos da classe trabalhadora e, logo, não detentores de privilégios que, entre outras coisas, permitem o tempo e condições favoráveis à criação literária (de fôlego, como romances, por exemplo) às elites econômicas.

Nesta edição, os escritores residentes foram: Steffany Dias, Mauro Siqueira, Isabel Marz, Diogo Lyra, Daniel Brazil e Adriana Kairos.

PERAMBULAÇÕES CORTAZIANAS

Nas duas primeiras residências literárias foram desenvolvidas uma metodologia de trabalho de campo, na qual os escritores interagiam com diferentes territórios urbanos, com outros transeuntes, imprimindo uma dinâmica de jogo com a cidade, buscando exercitar um olhar sobre a realidade que se revela ora imprevisível, ora quebrando estereótipos, permitindo giros às perspectivas outrora chapadas acerca do funcionamento da vida social e dos indivíduos.

Com o nome de “Perambulações Cortazianas”, essa metodologia remete à obra História de Cronópios e de Famas, de Julio Cortázar. Desse livro foram importados a reflexão sobre a rigidez da realidade e o potencial libertador da imaginação, pontos fundamentais para escritores que pretendem fugir do desenho de tipos bidimensionais. E, em seu lugar, com experimentação na linguagem, as Perambulações Cortazianas servem como terreno para os escritores favelofágicos criarem universos que desafiem a lógica.

Documentário

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“Alta Literatura Popular Brasileira: um documentário sobre a residência literária favelofágica de 2021”:

O documentário “Alta Literatura Popular Brasileira” apresenta novos romancistas ao público e aborda proposta estética dentro da qual desenvolveram suas histórias: a favelofagia. O título do filme busca provocar sobre um possível paradoxo, no caso, se for literatura popular ela poderia ser denominada como alta literatura? Sem dar spoiler sobre seus romances, os escritores desfiam sobre a tensão e as expectativas dos lugares de classe e raça diante da escrita de fôlego na ficção.

A luta por direitos humanos passa também pela literatura. Essa é a tônica de inúmeras lutas sociais que mobilizam pessoas ao redor da palavra literária nas periferias e favelas brasileiras. No Complexo de Favelas de Manguinhos, no Rio de Janeiro, foram desenvolvidas residências literárias para fomentar a produção de novos autores, oriundos de territórios socioambientalmente vulnerabilizados. A favelofagia foi simultaneamente metodologia e projeto estético a partir do qual foram produzidos quatro novos romances: “Chã de Dentro”, de Dani Ribeiro; “É quase como voltar pra casa”, de Janaina Abílio; “Carniça”, de Rafael Simeão; e “Tudo o que prometi ser”, de Daniel Brazil. Integrantes da Residência Literária Favelofágica, ao largo de dez meses, em 2021, buscaram modos de forjar uma escritura que apontasse para a superação das estereotipias sobre a experiência proletária, imprimindo o florescimento de um outro imaginário – ao mesmo tempo crítico e disruptivo e de acesso ao riso – sobre a experiência extrema do Brasil das iniquidades sociais. O documentário “Alta Literatura Popular Brasileira” trata do trabalho dos autores de favela fágicos junto aos moradores de Manguinhos, seus convidados das Sessões Literárias, onde todos enfrentaram o desafio de se tornarem livros; livros mais vivos.

SESSÕES LITERÁRIAS

As sessões literárias de manguinhos são uma plataforma de crítica literária coletiva, organizada pelo Bando Editorial Favelofágico nas dependências do Ecomuseu de Manguinhos, e que utiliza como base o formato de clube de leitura, no qual os comentários e reflexões sobre os livros servem como ocasião para reflexões dos autores sobre os rumos e efeitos de seus projetos literários durante o processo criativo.

A proposta é ter moradores de Manguinhos que, com a oportunidade de acessar o advento literário acessar romances em processo de criação, apresentam em suas leituras, suas análises, seus comentários para os criadores, desempenhando objetivamente uma valorização do saber local sobre os engenhos literários e para a própria literatura. A aposta com as sessões literárias trata também de pensar na recepção dos leitores, mas não de quaisquer leitores. São moradores de favela que, desta vez, podem ter suas imagens transmutadas. Em sua edição de 2021, as Sessões Literárias de Manguinhos foram compostas por Darcilia Alves, Patricia Evangelista, Codazzi, Geraldo Andrade e Caio Oliveira.

quem somos

Fundadores

Brunna Arakaki

Graduada em Produção Editorial pela Escola de Comunicação da UFRJ, atua há 11 anos como designer independente. Uma paulistana vivendo no Rio de Janeiro. Designer do Instituto Alziras, tem experiência em comunicação ampliada junto a movimentos sociais, na interface entre saúde, direitos humanos e territórios de favela e periferias. Atuou junto a projetos de literatura e educação, em redes de mobilização comunitária e na assessoria a coletivos do Complexo de Manguinhos (RJ). Colabora em projeto de promoção de territórios saudáveis e sustentáveis na Cooperação Social da Fiocruz.

 

Felipe Eugênio

Felipe Eugênio

Idealizador – e ainda perseguidor – do conceito de favelofagia, fundador do Bando, Felipe Eugênio é um editor que mira na Casa de Las Américas, e com esse quixotismo segue encontrando palpáveis escritores com disposição de aríete diante da literatura brasileira. É historiador formado pela UERJ e mestre em Ciência da Arte pela UFF. Milita em Manguinhos desde 2003 com educação popular, onde reconhece que sua grande escola de formação política se deu como professor e coordenador pedagógico de EJA. Em 2008, criou o Ecomuseu de Manguinhos, de onde se forjou documentarista e produziu as quatro edições da Agenda Cultural Mandela Vive. Foi nesse tempo que conseguiu ter a sorte de reunir inquietos literatos para botar de pé o Bando Editorial Favelofágico. Trabalha na Cooperação Social da Presidência da Fiocruz com plataformas colaborativas e pesquisa-ação sobre promoção da saúde, arte, cultura e territórios periféricos. Nessa toada, fundou e co coordena a Periferia Brasileira de Letras, rede de coletivos literários atuante em 10 estados brasileiras. Publica em 2024 o livro “Ensaios sobre Literatura nas periferias da periferia do capitalismo”, pela Editora Rubra. É de Vila Isabel, pai de um pianista bom de bola e tem uma musa em Laranjeiras.

Flora Tarumim

Flora Tarumim

Flora Tarumim é amante dos livros e das línguas. Formada em Português-Alemão pela UFRJ, atua como editora, agitadora cultural e produtora, colaborando com instituições e também coletivos independentes nas áreas de literatura, música e artes performativas, com ênfase em metodologias de criação coletiva, produção compartilhada do conhecimento e garantia de direitos. Atualmente cursa o mestrado em Estudos Interdisciplinares latinoamericanos na Universidade Livre de Berlim e experimenta a produção ficcional como a drag queen Amy D. na fanfic musical BowHouseDuo e no coletivo de drags brasileires BRagKultur onde elabora suas provocações como Rosa Sontag, autoproclamada professora de Economia Política e Heterossexualidade na Universidade do Amor.  Co-fundadora do Bando Editorial Favelofágico e do projeto “artístico” Partido Amazônia autofrei.

Manu da Cuíca

Manu da Cuíca

Manu da Cuíca é escritora e compositora, com cerca de 30 músicas gravadas, um musical encenado, premiações em dois festivais e oito textos, entre contos e crônicas, publicados em coletâneas. É autora de sambas de bloco e de sambas-enredo, tendo sido uma das compositoras do samba da Mangueira de 2019, vencedor do carnaval, premiado com Estandarte de Ouro e gravado por Maria Bethânia e Leci Brandão, entre outros artistas, e do samba da Mangueira de 2020. É autora de todas as letras do disco Rueira, com músicas em parceria com Rodrigo Lessa, lançado em 2017 por Marina Iris, e também das músicas “Pra matar preconceito” e “Virada”, essa gravada por Marina Iris e Péricles, entre outros artistas.
Formada em letras pela Uerj e cria do bar Bip-Bip, é filha de uma meia-ponta com um ponta de lança.

Rafael Maieiro

Rafael Maieiro é botafoguense, livreiro e comuna. Também vai rabiscando por aí. Às vezes tira uma onda de poeta, outras de contista e, pasmem, mesmo sendo o ser mais desafinado e sem ritmo das redondezas, mete uma marra de letrista. Em termos correntes, Maieiro, como é conhecido nos bares e livrarias, escreve e edita livros. Orgulha-se de ser um dos fundadores do Bando Editorial Favelofágico. Atualmente, realizando um dos primeiros sonhos da vida adulta, é colaborador-fundador da Rubra Produtora e Editora. Em mais de 10 anos no mercado editorial, perdeu as contas de quantos livros ajudou a editar. Cometeu dois livros de poemas: “Descursos” (FuturArte, 2011) e “As cores, a pedras e o tempo” (Autografia, 2016). Co-organizou, sendo também um dos autores, as coletâneas “Rio de Janeiro: alguns de seus gênios e muitos delírios” (Autografia, 2015); “Porremas” (Mórula Editorial, 2018), com Diego Barboza e Manuela Oiticica, e “Jumento com faixa” (Editora Viés, 2021), com Zeh Gustavo. Participou do livro “@Normal: o mundo pós-pandemia segundo a literatura” (Literatura Cotidiana, 2020). Tem um livro e um livro-disco no prelo. Ah, chiu, isso é segredo, hein, leitor abusado. E finja que não sou eu, cheio de falsa humildade, escrevendo esta biografiazinha.

equipe atual

Analis Moreno

Analis Moreno

Designer

Sou Analis Moreno, designer e artista visual, atualmente estudante de Comunicação Visual e Design na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Nascida e criada na Vila da Penha, zona norte do Rio de Janeiro, tenho 29 anos. Minha trajetória artística começou em 2015, quando comecei a explorar a fotografia, registrando momentos do meu cotidiano e território. Hoje, atuo como designer no departamento de comunicação da PBL, onde aplico meus conhecimentos em design visual para criar e desenvolver projetos.

Beatriz Vieira

Beatriz Vieira

Coordenadora da Extensão UERJ

É professora de História na UERJ, desde sempre amante das artes, especialmente a literatura em prosa e poesia. E quando isto se junta com a história… muitos caminhos se abrem. Coordena o projeto de extensão “História Literária na formação cidadã em territórios periféricos – articulações com a Periferia Brasileira de Letras (PBL/Fiocruz)”. E eis-nos aqui, aprendendo e somando com a PBL!

Caio Oliveira

Comunicador

Caio Jorge de Oliveira tem 28 anos, cria de Manguinhos desde que se conhece por gente, é estudante de Letras-Literatura pela UFRJ, cavaquinista do Música na Calçada, trabalha na comunicação do Bando Editorial Favelofágico. Escreve numa dialética para entender o mundo e a si mesmo e gosta de como as letras falam, de como nelas encontra um canto cotidiano, favelado e de luta.

Fabiana Freire

Diretora RedeCCAP

Fabiana Freire, mulher negra, bacharel em direito pela Universidade Estácio de Sá, através do Programa Universidade Para Todos (Prouni). Primeira pessoa da família a ingressar no ensino superior. Atua com projetos sociais desde 1999. De aprendiz do Programa Jovem pela Paz, integrou a equipe de coordenação que acompanhou jovens em diferentes territórios na aplicação de cursos de teatro, dança e artesanato na perspectiva de uma formação cultural e cidadã. Atualmente é diretora da Rede de Empreendimentos Sociais para o Desenvolvimento Socialmente Justo, Democrático e Sustentável (RedeCCAP) e coordena pela mesma instituição as ações desenvolvidas no projeto de formação para jovens comunicadores.

Felipe Eugênio

Felipe Eugênio

Consultoria Editorial

Editor e criador do Bando. É formado em história e mestre em Ciência da Arte. Trabalha como pesquisador na Cooperação Social da Fiocruz na área de arte, cultura, promoção da saúde e territórios periféricos. Atua em Manguinhos há cerca de 20 anos, ora como educador popular, ora como agitador cultural. Acredita na emancipação da classe trabalhadora como medida para se movimentar no mundo, o que inclui a literatura, ou pelo menos um modo de se disputar a literatura – no que aperta parafusos no maquinário das novas poéticas políticas. 

Flora Tarumim

Flora Tarumim

Editora

Flora Tarumim é amante dos livros e das línguas. Formada em Português-Alemão pela UFRJ, atua como editora, agitadora cultural e produtora, colaborando com instituições e também coletivos independentes nas áreas de literatura, música e artes performativas, com ênfase em metodologias de criação coletiva, produção compartilhada do conhecimento e garantia de direitos. Recentemente vem experimentando uma produção ficcional onde elabora suas provocações a partir da arte drag como Rosa Sontag, autoproclamada professora na Universidade do Amor, onde ministra a disciplina Economia Política e Heterossexualidade.

Lívia Carvalho

Lívia Carvalho

Coordenação do Blog

É estudante da graduação em Letras Inglês e Literaturas, pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Atualmente faz parte do projeto de extensão “História Literária na formação cidadã em territórios periféricos – articulações com a Periferia Brasileira de Letras (PBL/Fiocruz)”, e pesquisa Estética da recepção na iniciação científica “A poética cognitiva como complemento metodológico às teorias de Iser em O Ato da Leitura e O fictício e o imaginário”.

Mariane Martins

Mariane Martins

Coordenadora da V Residência Literária Favelofágica

Mariane Martins nasceu em 1987, no Rio de Janeiro, e vive em São Cristóvão desde então. Trabalha na área de arte e cultura da Cooperação Social da Presidência da Fiocruz. Desenvolve projetos focados em Cultura, Promoção da Saúde e Desenvolvimento Social. Atualmente coordena a rede Periferia Brasileira de Letras e a V Residência Literária Favelofágica.

Michele Paiva

Editora

Michele Paiva é uma mulher da década de 70 do século passado. Diz que não gosta de gente, mas defende os seus como ninguém. Uma tricolor cercada de flamenguistas e vascaínos. Adora livros desde que se entende por gente, mas fez a loucura de trabalhar com eles. Cursou Letras na Uerj e pós-graduação em Literatura Brasileira e em Produção Editorial. Trabalha em diversas editoras como freelancer. Ainda sente saudade da casa da infância, em São João de Meriti, e do Colégio Pedro II, no Humaitá.

Rafael Simeão

Rafael Simeão

Editor

Rafael Simeão nasceu em 1987, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. É professor. Na literatura, publicou o romance “Carniça” em 2022 pelo Bando Editorial Favelofágico. Em 2024, lança “Quando chega nossa vez acaba”, volume de contos publicado pela Alfaguara, e passa a integrar o time de editores do Bando.

Vanessa Almeida

Vanessa Almeida

Coordenadora do Ecomuseu de Manguinhos

Vanessa Almeida, graduada em Serviço Social pela (UFRJ). Atualmente coordena e organiza ações literárias pelo Ecomuseu de Manguinhos da (RedeCCAP), em parceria com a Coordenação de Cooperação Social da Presidência da Fiocruz. Através do selo editorial do Ecomuseu, Bando Editorial Favelofágico, promove residências literárias no apoio à publicação de autoras e autores oriundos de favelas e periferias e compõe a rede Periferia Brasileira de Letras.

Parceiros

Parceira de primeira ordem, e que trouxe o arcabouço da Promoção da Saúde para o Ecomuseu de Manguinhos, a Coordenação de Cooperação Social (CCSP) é o órgão da Presidência da Fiocruz que assume o compromisso de interagir com organizações da sociedade civil, movimentos sociais e o poder público para desenvolvimento de estratégias e iniciativas em escala local, regional e nacional que contribuam no enfrentamento e redução das desigualdades e iniquidades socioambientais em saúde.

Sua atuação se dá a partir do arcabouço teórico e conceitual da promoção da saúde, da Estratégia Fiocruz para Agenda 2030, do Programa Institucional de Territórios Saudáveis e Sustentáveis, em alinhamento com as resoluções dos Congressos Internos e decisões do Conselho Deliberativo, dos temas prioritários da Presidência da Fiocruz e da atual gestão do Ministério da Saúde.

A Cooperação Social adota metodologias participativas e territorializadas com objetivo de reforçar e ampliar as capacidades das populações vulnerabilizadas de mobilização, análise, proposição e controle social de políticas públicas e de defesa do SUS. A sua contribuição com o Bando Editorial Favelofágico se dá através de projetos de pesquisa-ação na área da cultura-arte-territórios, colaborando na produção de diagnósticos territoriais, assim como articulação em redes com Unidades Técnico-Científicas da Fiocruz – denominadas plataformas colaborativas – no que estimula a construção de redes sociotécnicas com organizações de base sociocomunitária e movimentos sociais.

Saiba mais

A Rubra é uma editora parceira do Bando Editorial Favelofágico, no que cumpre sua colaboração com sua expertise de coordenação editorial apontando para viabilizar as publicações literárias para circulação tanto no mercado quanto junto à movimentos sociais. Tendo experiência com textos políticos e com autores que trabalham arena pública, a Rubra Produtora e Editora está na V Residência Literária Favelofágica atuando na coordenação dos editores, orientando rumos dos projetos dos romances para o maior alcance de público quando nos lançamentos dos livros. Seu fundador, Rafael Maieiro, tem afinidade com o Bando Editorial Favelofágico, posto que integrou o quadro de editores que criaram a favelofagia. Logo, há um compartilhamento de concepção literária e sua implicação na cena periférica.

A partir da parceria do Departamento de História da UERJ, com seu projeto de extensão universitária “História Literária na formação cidadã em territórios periféricos – articulações com a Periferia Brasileira de Letras (PBL/Fiocruz)”, foi possível uma série de intercâmbios com escritores e editores do Bando Editorial Favelofágico, especialmente com aqueles da IV Residência Literária Favelofágica, os contistas de Manguinhos e da Maré. Dali se apontou a possibilidade da colaboração do projeto de extensão universitária liderado pela Professora Doutora Beatriz Vieira com a produção de uma revista literária. Esse projeto se tornou uma co edição do projeto “História Literária” com a área de blog do site da favelofagia, tendo a bolsista do projeto de extensão, Lívia Carvalho, contribuindo na coordenação de colunistas e suas produções literárias.